01 abril, 2011

B, uma história sem amor.

B era um doce, com leve deficiência que os pais fingiam não perceber.O pai oficial graduado da marinha às vezes se exasperava diante da incompreensão da filha com problemas de matemática.B era assustada e ausente, ficava difícil fazer com que prestasse atenção as explicações ou que se interessasse por elas. O olhar de B era triste, vazio e distante.

Certa tarde, a caminho para fazer meu trabalho, resolvi que não daria minha aula habitual e sim daria colagens, pintura e desenho para ter um dia “diferente”.Peguei varias revistas e pedi para que ela cortasse as figuras que representassem ela mesma, sua irmã e pais.Todas as figuras eram pretas ou cinzas, com características dark. Achei o trabalho muito “pesado” pra uma menina de 13 anos e procurei ajuda com uma amiga psicóloga, pois, no meu entendimento aquelas figuras demonstravam profunda depressão. O diagnostico foi: depressão aguda.Comuniquei o pai, que sempre estava em alto mar e não podia ajudar muito. A resposta dele foi que B sempre era assim para os estudos, só ficava bem na hora de sair com amigas e ir ao shopping ou gastar com bobagens. Insisti que a garota não estava bem e precisava de ajuda. Como não obtive resposta conversei com a mãe, uma jovem sempre ocupada em “malhar” e nada atenciosa com as filhas. Recebi comunicado que deveria dar aulas continuamente em dezembro, Janeiro e Fevereiro, o que não é comum no Rio de Janeiro a 40º.

O tempo passou e no ano seguinte percebi que B estava apegadissima a mim, o que não era muito profissional da minha parte, apegada ao ponto de pedir para eu dar aulas extras aos sábados, pois, não queria ficar sozinha já que a mãe saia com amigas na sexta e retornava às segundas feiras, próximo do horário que B saia para escola.

Certo dia, cheguei às 16horas para dar aulas e B estava muito triste, havia brigado com a mãe, o pai gritava com a esposa e filha, numa situação constrangedora. Tentei acalmá-la, ela me olhou, (nunca mais vou esquecer aquele olhar), e me falou: eu amo você professora.

Sorri e disse também gosto muito de você.

(E gosto mesmo!) Neste dia B foi diferente comigo, fez tudo que pedi e quando me despedi me abraçou muito apertado e perguntou se na sexta feira, poderíamos ir ao cinema, respondi que sim e sai. No dia seguinte recebi um recado que nao era necessário comparecer as aulas pois B havia entrado em grave estado de depressão.

Nunca mais vi B e sei que, se esta menina tivesse recebido os carinhos dos pais e estes tivessem aceitado suas limitações ela teria sido uma pessoa feliz.



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